1 de agosto de 2011

Amy Winehouse morreu, e daí?

Hoje, dia 01-08-2011, resolvi fazer uma coisa que não faço desde os meus 16 anos de idade. Mudei o canal da TV para a MTV. Qual não foi a minha surpresa quando vi que a dita emissora de músicas estava a colocar um show inteiro? Parece que hoje a MTV se dedica muito mais a reallity-shows e programas de humor mais agressivo (isso não quer dizer que não tenha graça, mas não se trata do Iogurte ralo do Zorra Total) do que a aquilo que dá nome à emissora.
E lá estava eu, boladão de sono, vendo uma das coisas mais deprimentes em um show –  o pretenso artista tão doido por conta das drogas (“é o corre, mano!”) que não conseguia se lembrar das letras, de sua afinação e de seu próprio equilíbrio. Amy Winehouse morreu semana passada, mas o que eu não entendo é porque as pessoas consideram a mocinha que gosta de um negão um gênio musical.
Espanta-me essa consideração pelo simples fato de que a genialidade de Amy Winehouse é, em essência, o mesmo movimento que vemos na cultura pop desde o seu nascimento. Na década de 1950, surgia Elvis Presley e se dava o início do Rock ‘n Roll no mundo. Juntamente com os Beatles, Elvis empolgava o público e, como a sinceridade importa, marcou muito mais os artistas do que a banda de garotos aparentemente comportados de Liverpool. Digo marcou porque Elvis fez, conscientemente, algo que os garotos londrinos não poderiam sequer especular quando começaram. Elvis não fez o que podemos chamar de “rock branquelo”: não tinha “Yeah!”, não tinha “lá, lá, lá!”. As músicas de Elvis, apesar de ingênuas nesse início, apresentavam uma mescla entre música Gospel e Música Negra Norte-Americana (que, naquela época, era uma coisa indistinta – não existia ainda campos bem delimitados para Blues, Jazz e as milhares de coisas que os afrodescendentes inventam na música). Ou seja, com uma mescla de música negra com instrumentos elétricos, Elvis foi responsável por uma revolução que nada mais é que um embranquecimento da produção negra de músicas de um lado, e uma revolução no pensamento acerca do que seria um jovem, de outro. Talvez, o segundo aspecto seja o mais importante para o Rei do Rock, mas avancemos.
Quando se pensa em jovem, adolescente e outras noções tão importantes para a nossa sociedade deve-se lembrar que, em termos de história da humanidade, essas noções ainda são... criancinhas birrentas e cheias de remela!!!! A noção de adolescência só surge com força e da forma com a qual conhecemos a partir dos anos de 1950. Ou seja, ao mesmo tempo em que surgia o Rock, surgia o jovem. Não mais como pequeno adulto, mas como algo intermediário, um pretenso consumidor de produtos que deveria ser respeitado por todos. Não se pode negar a importância de Elvis Presley para esse fenômeno nos EUA.
Mas, passemos adiante. No anos de 1960, com a confirmação das duas grandes forças – Beatles e Elvis, víamos o sistema básico do Rock se estabelecera. Várias novas formas surgiam, como o folk rock, country rock, o rock psicodélico; mas todas apresentavam o mesmo sistema que Elvis valeu-se 10 anos antes – a mescla entre um ritmo já estabelecido e o sistema de guitarras elétricas. O que poderia ser uma novidade nada mais era que a mistura de elementos para a criação de algo sutilmente diferente de seus componentes copiados. Assim, o que seria original era, em realidade, uma cópia com alguns elementos diferentes.
Qualquer pesquisa no Google possibilita o leitor a visualizar um fato com relação ao Rock – ele é o primeiro movimento que age por meio da mescla como motor de novos estilos. O Rock sempre promoveu o encontro de ritmos para que a cultura jovem continue produzindo novos produtos sem parar, sem parar (pausa para comer uma cópia do Bis).


Entretanto, vamos ao que vi pela manhã – trata-se do show da Amy Winehouse em Dublin. Por favor, notem uma coisa bem simples: toda a banda é composta por negros, a mescla promovida por Amy é a mistura do Rock com instrumentos típicos do Jazz, produzindo baladas em que a temática da dependência e da vida jovem nos decadentes centros culturais de outrora proporcionam. Mas vejam que, enquanto todos os negros sabem as músicas, sabem as letras e animam a galera, Amy encontra-se num deplorável estado de psicodelia em que nada, absolutamente nada faz lembrar que essa cantora pretensamente renovou o pensamento dos anos 2000 com relação ao blues, rock e jazz no mundo.
Lembro que, há uma semana, Amy morreu e praticamente não mudou seu repertório além do bombástico “Black to Black”. Pra mim, ao menos, em 2006, tudo o que Amy conseguiu foi um sorriso cínico. A música é boa? É, mas não se trata de um obra revolucionária como fora Elvis, Sabbath e outros. Trata-se apenas do mesmo movimento realizado por...


Inté.

Exercer a crítica a alguns é fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa de legislador; mas, para a representação literária, como para a representação política, é preciso ter alguma coisa a mais que um simples desejo de falar à multidão. (…) Infelizmente, é a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada pelos esclarecidos, é exercida pelos incompetentes. (Machado de Assis)

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Esse é, até agora, o único post em que me cabe comentar. Os outros tratam de assuntos alheios aos meus conhecimentos, desculpem-me os jovens nerds!
    O que posso dizer é que concordo com Dr. House. Realmente, não faz sentido endeusar uma pessoa que, tendo um puta talento na mão, não fez nada além de mostrar que é muito fácil cair no esgoto do showbiz... Ela tinha potencial pra ser muito, mas acabou se deixando levar pela loucura, negando abertamente qualquer tratamento que a tornasse uma pessoa sã. Que drogas são pesadas e difíceis de se largar, todos sabem -- e eu sei disso de perto pq, além de eu mesma ser fumante, já tive um adicto de drogas mais pesadas na família. Mas, daí a se orgulhar de dizer que não quer mudar, vai uma distância enorme, que só pode me levar a dizer que ela é mais uma entre as milhões de promessas da música que existem, existiram e existirão pelo mundo...

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  3. Bom, não sou nenhum expert dentro do universo musical, no entanto, não entendo este fenômeno da Amy Winehouse (somente lendo este post que descobrir que diabos de musica é essa tal de "Back to Black"), e justamente por esse desconhecimento, comparado a verdadeiros Fenômenos como Michael Jackson, Elvis, Beatles e etc, ou mesmo outros menos marcantes ao meu ver como Janis Joplin, James Brown. Sobre a questão do uso de drogas, considero um problema que fica escondido por trás de uma "bandeira da escolha", quando na verdade as vezes ela nem é tão escolha assim.

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  4. Começar a usar drogas é escolha, manter-se nela é que não é. Mas o problema não é esse: a questão é que ela parecia ter orgulho disso. Podia não ter, mas fazia questão de que todos acreditassem nisso.

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