Caros leitores, na semana passada (eu acho), tivemos muitos questionamentos acerca do relaunch – que acredito ser o termo mais apropriado – da DC Comics. Essas perguntas estão em total acordo com o ritmo gradual dessa sequência de artigos (e não de Hadouken) que ora apresento-vos. É importante termos em mente que qualquer leitor que deseje comentar aqui terá suas questões respondidas, seja na própria seção de comentários, seja em um artigo posterior, pois, a crítica desenvolve-se por meio dos questionamentos que nos são propostos, mostrando um novo caminho ou um caminho complementar daquele usado por nossos autores.
Depois de versar acerca dos parâmetros que norteiam o meu pensamento, vamos ao problema atual com relação à DC. Nos últimos 10 anos, a DC Comics tem amargado a segunda colocação em termos de vendas de HQ no mercado americano (o que, para eles, é importante). Após a fusão com a Warner Bros, a DC iniciou, progressivamente uma tentativa de tornar seus personagens mais sérios, mais ligados à mentalidade das primeiras décadas do século XXI. Para tanto, versões mais darks das personagens começaram a aparecer, seguindo os modelos que já estavam em voga em décadas anteriores mais pulverizados. A ideia não deu certo, é claro. Entretanto, algo deveria ser feito, pois a continuidade apontava para um movimento cada dia mais dark – veio a Crise Infinita, veio a Crise Final e o mimimi estadounidense simplesmente congelou as iniciativas. Enquanto isso, o lobby dentro da empresa colocou Geoff Jonhs e Jim Lee como peças centrais na editora. Caminho aberto para o Reboot/Relaunch…
Vamos, então ver o que temos até o momento – imagens – e teceremos alguns comentários sobre cada uma deles. Comecemos, então com a com a Liga da Justiça.
A primeira imagem divugada do relaunch é assinada por Jim Lee. Não vou tecer comentários sobre o óbvio improviso em termos de técnica, pois hoje é absolutamente desnecessário devido, principalmente, a enormidade de blogs que estão a tratar do assunto. Na realidade, gostaria de tecer comentários sobre o impacto arquetípico das pequenas mudanças realizadas pelo ilustrador com relação às personagens. Parece que a tônica do projeto New 52 será a diminuição dos poderes dos principais bastiões da editora. Notem que Superman está usando uma armadura, bem como todos os outros personagens dessa imagem. Uma armadura nada mais é que um símbolo de fragilidade do corpo, uma necessidade de proteção contra as intempéries do universo. Ou seja, uma armadura além de proteger, gera, contraditoriamente, um índice da fraqueza do próprio homem ou super-homem, frente a seu serviço.
Superman usar uma armadura é, em última análise, uma tentativa da editora de mostrar que essa nova versão da personagem será mais fraca que as versões anteriores – exatamente o que fora realizado por John Byrne em 1984 e que fora gradualmente deixado de lado quando da saída deste. Se lembrarmos dos anos em que o veterano artista esteve à frente de Superman, a personagem parecia muito mais fraca que a personagem pré-Crise e seus poderes ridículos (como o superventriloquismo), e, se pensarmos no personagem atual, temos a mesma impressão. O grande problema com relação ao Superman é a tendência de levar o aspecto de “maior” herói da editora com relação a seus poderes e não às suas façanhas o que costuma gerar esse espécie de miopia com relação à extensão dos feitos que ele possa realizar.
Não é só o Superman, todavia, que possui uma armadura. Todos as personagens na imagem, com excessão da Mulher-Maravilha e do Aquaman, estão com tal vestimenta. A grande pergunta é: como uma armadura, ao mesmo tempo que homegeiniza os super-heróis, pode servir para qualquer personagem? Aí cabem algumas elocubrações.
Partindo-se do princípio de que a redução de poderes seja uma tônica, podemos admitir que a força de acelaração (de onde vem os poderes de Barry Allen) não será mais tão presente nos poderes do Flash. Qualquer velho como eu deve lembrar-se de que o Flash possui, dentre seus poderes baseados na supervelocidade, uma aura de proteção que pode ser extendida para as pessoas que ele carrega. Se o Flash pós-Relaunch não possui essa aura, a armadura se justifica. Entretanto, ao carregar uma pessoa, ele deverá diminuir consideravelmente sua movimentação. Do contrário, a pessoa vira farinha com o atrito. O problema é que a personagem está muito ligada ao esquema de resgate (seja pré-Crise, pós-Crise, com Wally ou qualquer outro personagem que já tenha vestido o uniforme de Flash). Se não há como realizar um resgate em supervelocidade, os roteiristas terão de encontrar maneiras mais criativas para lidar com a questão ou simplesmente ignorar a armadura tão logo Jim Lee saia dos desenhos.
Creio que isso dá ao leitor uma boa ideia dos problemas iniciais com os quais os artistas lidarão com esse esquema de adequação das personagens neste século. Entretanto, vamos à próxima imagem…
A segunda imagem divulgada apresenta o elenco principal da Liga da Justiça mais o elenco de apoio. No apoio teremos: Desafiador, Elektron, Mulher-Elemental (oriunda da saga Flashpoint), Nuclear, Arqueiro Verde, Gavião Negro, Canário Negro e a personagem que especula-se ser a Poderosa. Temos, então, algo bem básico com relação à Liga da Justiça – haverá rotatividade dos membros. Ou seja, em algumas edições teremos os sete grandes (pelo menos, o Cyborg recebeu uma promoção), depois mais algumas edições apresentando um ou outro personagem dentro da Liga. Ou seja, teremos, sim, um ano 1 – uma saga disfarçada em pequenas histórias. Mas, de qualquer forma, o que teremos é uma reinvenção de velhas fórmulas já usadas pela DC Comics nos últimos anos.
Como essa não é a levada de nossa análise ainda (mas, posteriormente, direi um sonoro “Eu avisei, porra!”), vamos continuar os comentários sobre as imagens. Se há um herói que realmente espanta pelo dessenho de Jim Lee, ele se chama Cyborg. O complexo de lâminas criado pelo desenhista afasta uma das ideias utilizadas por Wolfman e Pérez durante seus longos anos à frente dos Novos Titãs. Se vocês não são tão velhinhos, procurem nos sebos e importadoras. Nos anos 1980, Cyborg era um tipo de herói diferente daqueles do universo DC, atormentado pelo seu próprio superpoder – partes de seu corpo que foram trocadas por partes cibernéticas devido a um acidente e aos projetos mecatrônicos de seu pai –, Victor Stone só queria ser um ser humano comum e tentou arduamente lutar para isso. Com o passar dos anos, Wolfman foi desenvolvendo o caráter da personagem e era nítida a preocupação com o lado humano da personagem (até um cena de sexo apareceu nesse época). Nos anos de 1990, esse lado fora colocado de lado, pois Cyborg sofreu com a formatação de seu banco de dados e sua transformação em Cyberion. Claro que, como a maioria das ideias dos anos 1990, isso foi deixado de lado e ele se tornou um sintozóide estilo T-1000 para, depois, voltar a ser o bom e velho Cyborg de sempre com mais alguns gadgets e menos partes humanas na fase de Geoff Jonhs à frente dos roteiros. Mas o que acontece quando o Cyborg se transforma na filial das facas Ginsu? Somente saberemos a partir de setembro…
Porém, mais algumas imagens foram liberadas – vamos a elas antes que o leitor se canse dessa parte da análise…
Se a grande intenção era mostrar ao leitor que haveria uma retomada da base heróica – puramente épica e simbólica – das personagens da DC, a intenção morreu na praia. Jim Lee volta atrás com relação ao design da Mulher-Maravilha e recoloca a tanguinha (em um próximo post, irei comentar o assunto…). Ivan Reis mostra uma imagem mais heróica de fato, mas vejam a terceira imagem da sequência, voltamos a ver os heróis de maneira mais dark, tendo um Superman novamente colocado acima de todos os outros. Ou seja, a DC ainda não mostra uma homogeneidade no projeto e as afirmações dos publishers só podem ser levadas em consideração em parte, pois o que temos é ainda muito indefinido, mas para vocês que não ouviram um “eu avisei” escrito anteriormente… Batman briga com o Superman de novo…
Bem, eu avisei… Trata-se, em última instância, no que concerne à Liga da Justiça, de uma grande adequação das personagens da DC à nova função dos EUA no cenário internacional…
Inté.
Exercer a crítica a alguns é fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa de legislador; mas, para a representação literária, como para a representação política, é preciso ter alguma coisa a mais que um simples desejo de falar à multidão. (…) Infelizmente, é a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada pelos esclarecidos, é exercida pelos incompetentes. (Machado de Assis)
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