4 de agosto de 2011

Crítica: Reboot da DC Comics – A ignorância editorial… Parte 2

Na primeira parte desse artigo, trabalhei com as questões de evolução e adequação e tentei demonstrar como elas são vitais para a continuidade ficcional das principais editoras de HQ de super-heróis. Agora, vamos analisar os últimos anos da continuidade da DC Comics para tentar entender quais seriam as razões para o chamado reboot que ocorrerá daqui a alguns meses.
O primeiro reboot DC Comics foi Crise nas Infinitas Terras. Essa saga dos anos de 1980 se revelou de grande valia para o que acontecia na editora naquele tempo. As personagens eram organizadas por mundos que tinham sua própria cronologia que, na ampla maioria dos casos, congelava-os em esquemas ficcionais rígidos. Um exemplo se faz necessário – nesse tempo, tínhamos a Terra-S, que abrigava a Família Marvel e apresentava um engessamento temporal: a maioria das aventuras estavam nos anos de 1950, apesar de o personagem ser publicado em 1970 de quando em quando. Como o Capitão Marvel foi adquirido pela editora por meio de um processo de plágio, raramente os editores permitiam que o personagem encontrasse com Superman, Batman, Flash e outros.
O exemplo mais emblemático, entretanto, é o caso de Flash. Barry Allen era um herói da Terra-1 (chamada no Brasil de Terra Ativa) e se encontrou com o Flash da Terra-2 (chamado no Brasil de Joel Ciclone, tendo sua Terra, à época, recebido o nome de Terra Paralela). Esse evento despertou o interesse de roteiristas e desenhistas que, ao longo da década de 1960 e 1970, desenvolveram diversos encontros entre essas Terras chamadas de “Crises”. Em 1980, Marv Wolffman e Geroge Pérez, seguindo o longo caminho ficcional, desenvolveram a crise suprema – uma história em que todos os universos paralelos seriam reinicializad
os (rebootados) para que houvesse apenas um universo. Era uma tentativa de organizar a maçaroca de realidades diversas que se tornou o processo de fagocitose de tribunal entre os personagens da Editora.
O fato é que, desde o início das “Crises” um Flash estava envolvido (na primeira, dois). E inserir um novo reboot com um Flash trata-se de um enorme acerto.
Em Crise nas Infinitas Terras, abriu-se o caminho para se tentar organizar o Universo DC e não mais Multiverso DC. Dessa forma, foram convocados vários expoentes da época para trabalhar com Superman (John Byrne), Batman (Frank Miller e David Mazzucchelli), Mulher Maravilha (Wolfman e Pérez), Novos Titãs (Wolfman e Pérez), Liga da Justiça (Keith Giffen e J.M. DeMatteis). A grande e gritante problema foi que, enquanto Batman estava retornando do zero, tínhamos um Robin que se tornara Asa Noturna atuando nos Titãs, pois eles não foram rebootados, pois já eram aquilo que os editores pretendiam para essa nova safra de heróis. Mais uma vez, recorreu-se à desculpa da cronologia – as histórias de Batman e Superman ocorriam no passado, as histórias da Liga da Justiça Internacional e Novos Titãs ocorriam no presente.
De início, a maior liberdade gerou um importante componente de ideias para os personagens. Superman nunca fora Superboy, Batman tornou-se mais violento e soturno, com uma Gotham muito mais violenta que anteriormente, os Novos Titãs se batiam com problemas adolescentes como gravidez, vícios e drogas... Mas tudo o que é bom dura pouco... Com a chegada dos anos de 1990 e da avalanche inicial que fora a Image, foi decretado que os principais personagens iriam passar por problemas sérios – Bruce ficou aleijadinho, Kal-El mórreu, os Titãs começaram um ciclo de sai e não sai, Dick Grayson casou e descasou, etc. etc. Ah, e Hal Jordan virou Parallax. Tempos negros na DC Comics...
Com a desculpa de que um Lanterna Verde havia se tornado vilão e que detinha praticamente todo o poder da Bateria Central, a DC tinha o pretexto para uma nova Crise. Criou-se, então, Zero Hora que, além de resgatar a velhice da SJA (que havia retornado à cronologia graças a Armaggedon 2001), organizou um sem número de fatos paradoxais dentro do esquema ficcional do Universo Único da DC – por exemplo, o que acontecia com Gavião Negro (personagem que merece um artigo independente).
Zero Hora não organizou o Universo DC, mas detonou um outro conceito chamado de Hipertempo que é, na realidade, o mesmo conceito de Terras Paralelas da Marvel... A ideia é colocada de lado e ainda tínhamos o problema da DC estar, na época, vendendo vários títulos de Elseworld. Ou seja, existiam temporalidades alternativas sem alguma justificativa cronológica. Tentando resolver isso, as melhores histórias de Elseword e a antiga Terra Paralela, voltaram à continuidade da DC Comics através de Crise Infinita que criou 52 Terras além de uma Terra-0 em que todos os heróis da editora coexistiam.
Semana que vem continuamos a saga até chegarmos à “nova iniciativa” da DC...

Inté.
(Origninalmente publicado no blog Pira RPG)
Exercer a crítica a alguns é fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa de legislador; mas, para a representação literária, como para a representação política, é preciso ter alguma coisa a mais que um simples desejo de falar à multidão. (…) Infelizmente, é a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada pelos esclarecidos, é exercida pelos incompetentes. (Machado de Assis)

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