7 de setembro de 2011

Especial: 11 de setembro e os Quadrinhos – O caminho sem volta... (parte 01)

O que aconteceu com os quadrinhos? É a pergunta de quem acompanhava super-heróis e resolve voltar aos quadrinhos mensais em quase todos os casos de ausências enormes do leitor (Dennis O’Neil já escreveu sobre isso em Super-Heróis e a Filosofia, Ed. Madras). Mas o que aconteceu com os quadrinhos após 11-09-2001 e com a recente depressão econômica na principal morada dos super-heróis?

Parafraseando Himura Kenshin, este servo tentará delinear alguns arquétipos narrativos (ou seja, não se trata de Jung e Campbell, mas de Meletínski) que se tornaram onipresentes nos quadrinhos estadounidenses a partir de 2001 e que se encontram num beco sem saída ficcional na atual produção de narrativas dessa mídia. Além disso, traçaremos uma espécie de contexto para que as observações não sejam tão somente colocadas ao acaso, mas tentando entender o que acontece no contexto cultural do Ocidente como um todo.

Já escrevemos um longo artigo sobre a DC Comics, agora será a vez da Marvel, pois, entendemos que a editora conseguiu certa precedência com relação à Distinta Concorrência por sistematicamente vencê-la atuando praticamente com a mesma política editorial. É notório saber que a Marvel, todos os anos, apresenta o que chamamos de mega-saga uma vez ao ano desde 1980, com Guerras Secretas. Uma mega-saga é um crossover interno dos personagens da editora que se unem contra um determinado inimigo, isso estabelece, na ampla maioria dos casos, mudanças significativas em determinadas personagens, além de, gradualmente, alterar o status quo daquele universo.

Os anos 1990 foram marcados pela desastrosa iniciativa Heroes Reborn. Não acho necessário tecer qualquer comentário sobre o assunto, o leitor já conhece todas as opiniões possíveis sobre como essa saga foi terrível em termos de produção artística e imaginário das personagens. O que aconteceu, na realidade, foi uma tentativa radical da Marvel de realizar um reboot (hehehehe!) sem levar em consideração o aspecto modelar das personagens envolvidas e, por isso, desagradou imensamente aos fãs. O ano 2000 foi marcado pela “Tropa de Elite” dos grupos da editora. O primeiro deles e, anterior ao 11/09, foi X-Treme X-Men, mas dentro do Universo X, vários outros grupos de elite foram formados.

X-Treme X-Men era diferente dos outros grupos X – era formado tão somente por minorias que se encontravam nos EUA. Como fora feito em 2000, ainda não tínhamos como abordar a questão do terrorismo? Não, senhor. O principal inimigo desse grupo era um Mestre Assassino que acabou por matar Psylocke – obviamente, ela voltaria, mas isso é outra história. O fato é que o grupo estava a perseguir um homem pelo mundo e esse homem causava o caos naquele pequeno universo. Obviamente, o arquétipo principal dessa personagem é a imagem do Anti-Cristo ou da Besta Ladradora – um único homem com determinação e poder suficientes para disseminar o caos.

E enfim, chegou o 11/09...

X-Treme X-Men não conseguiu manter-se, as vendas despencaram, pois o mercado americano não poderia digerir a presença de um único agente do caos anterior ao 11/09. Entretanto, o tema passa a se repetir de maneira incessante dentro da Editora. Grant Morrison assume os X-Men, publicando a série New X-Men que é considerada uma nova abordagem para os heróis mutantes.

Em New X-Men, a metáfora do terrorismo está inserida no contexto ficcional. Com a simples alteração dos uniformes das personagens, em ressonância do filme de Brian Synger, Morrison mostra como é o padrão metodológico de um terrorista – Xorn, ingressa nos X-Men e, dentro do grupo começa a compreender os padrões de guerra e ideologia dos mutantes em seu dia-a-dia para só então revelar sua verdadeira identidade – Magneto. Conforme as notícias da época, todos os terroristas envolvidos nos aviões que atingiram prédios, fizeram cursos de aviação dentro do território americano, ou seja, para atingir seu inimigo é necessário conhecê-lo intimamente, e Morrison apresenta isso em duas vertentes diversas. A primeira é o já comentado Xorn e a segunda são os pequenos mutantes, alunos da Escola Xavier, que decidem traí-los e tornarem-se os principais mutantes da Terra. O que acontece, porém, é uma retaliação imediata e rápida dos X-Men clássicos (e não originais) combatendo a ameaça interna.

O que é interessante é que Morrison mostra como o terrorismo atua cotidianamente, ou seja, ele transformou em dois anos uma prática terrorista num arquétipo fundamental de sua estada nos X-Men. Dessa forma, logo após o 11/09 e, diferente da insípida história-homenagem do Homem-Aranha, os autores de quadrinhos foram os primeiros a trabalhar com a temática terrorista, mas de maneira alegórica e não tão “realista” quanto se poderia imaginar.

A seguir, em “No nanquim”: Mangaverso, Marvel Knights e Linha Max...

Inté.

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