20 de setembro de 2011

Especial 11/09 – A nova tendência da Marvel é irreversível? (parte final)

Poderíamos dizer que o 11/09 foi um divisor de águas com relação à narrativa heroica, mas temos de fazer uma pequena observação. Nada no mundo ficcional é imediato. Não é porque acontece algo no mundo real que o mundo ficcional conseguirá acompanhá-lo de maneira sincrônica. As coisas não ocorrem dessa forma. O primeiro esboço de órgãos internos do homem só ocorreu séculos depois de manipulações desses mesmos órgãos internos...

 

 

Nessa análise que é igual aos mamilos (polêmicos, ma-mi-los polêmicos), ignorei as homenagens a bombeiros, policiais, paramédicos e demais homens e mulheres que auxiliaram no resgate de sobreviventes e corpos depois do crash das Torres. Isso se dá por um simples motivo: em toda narrativa encomiástica (não sabe o que significa? Veja no dicionário...), perde-se muito de ficção e de problemas que a ciência não observa para se falar de algo que pode ter algum impacto na vida das pessoas tempos depois do acidente. Estando à distância confortável de 10 anos, posso dizer com alguma segurança que nenhum leitor regular de quadrinhos lembra dessas séries, a menos que seja estadunidense e tenha alguma ligação com NY. Para a ampla maioria dos leitores, esses quadrinhos pós-11/09 são meramente documentos acerca da primeira reação americana, nada mais.

 

 

Nossa série preocupa-se com outra coisa: qual o impacto no imaginário estadunidense que o 11/09 proporcionou? Essa pergunta é fundamental para que possamos entender a série de eventos que descambam em Fear Itself, pois, em alguma medida, trata-se da mesma narrativa sendo contada inúmeras vezes com resultados diversos.

Como todos sabemos, o método terrorista de atuação baseia-se em um ataque de dentro para fora. Esse “dentro” é a maneira cotidiana para a confecção do plano. O rapto dos aviões, como bem sabemos, contou com a ajuda de estadunidenses que, além de ensinarem os terroristas a pilotar, a andar em NY, a se comportar sem levantar muitas suspeitas, mostraram o quão frágil é o povo americano. Especular que os alvos daquele fatídico dia vieram somente de Osama Bin Laden é de uma ingenuidade atroz. O terrorismo se aproveita do que ouve, vê e observa, pois sabe que uma frase aqui, outra ali mostra como determinado alvo pode ser mais impactante do que outro. Ou seja, terrorismo não é, infelizmente, um movimento político ocidental, mas uma espécie de culto com o qual algumas pessoas tomam para si a “causa”, que, para o resto das pessoas (suas vítimas) parece ser completamente sem sentido.

“Dr. House, muito bonito, mas cadê os quadrinhos nessa história?” Essa enrolação toda, entediado leitor, serve somente para o que irei comentar a partir desse momento. Bem, um terrorista é alguém que aprende os métodos de dentro para realizar o melhor ataque. É claro que essa obviedade não é tão bem assimilada pelo povo de lá, mas pode ser utilizada alegoricamente. Se pensarmos no grupo com os maiores heróis da Terra, chegamos a “no more Mutants”, mas, antes disso, chegamos ao que a Feiticeira Escarlate fez aos Vingadores. De dentro, a moçoila manipulou com seus poderes todos os membros da distinta equipe não-mutante dos EUA. Além disso, seu ataque foi tão sistemático (derrota-se os mais poderosos com um golpe certeiro e os outros de maneira mais simbólica possível) que terminou com uma certa mansão em frente ao Central Park.

 

 

Pulando-se a Dinastia M, porque ela é chata para caralho, chegamos à sequência de eventos que nos levam à Guerra Civil, um evento que, além de mostrar como os super-heróis estavam se banalizando (lembrem-se de que o estopim para a coisa é um super-BBB), mostra que uma Guerra Civil depois de 11/09 mais parece uma batalha sem lógica, em que as ideologias não são bem explicitadas, mas que os símbolos ainda mantém sua força. Ou seja, as pessoas seguem o Capitão América ou o Homem de Ferro mais por sua relação de fé com os heróis do que pela ideologia que estão a defender. Talvez seja esse o motivo do gosto acre da leitura da maioria das discussões entre Stark e Rogers. Mais uma vez, um ataque interno, amplas medidas de segurança, quase uma paranoia com relação aos heróis e uma medida drástica...

 

 

Daí, vamos à Invasão Secreta e o leitor já sabe que “Ele te ama” e esse amor significa aceitar o domínio Skrull na Terra, entrando todos os ingredientes anteriores e mais um a fé. Talvez a história mais interessante dentro de Invasão Secreta foi a série de Hércules que mostrava os deuses de outras eras a enfrentar Ele. Muito interessante mesmo a história, apesar de os heróis venceram de maneira tola no final. Reinado Sombrio, não é necessário dizer, torna-se, dessa forma, a política autoritária de segurança interna e externa elevada ao extremo, restando um povo traumatizado que vê um prédio absurdamente alto de NY sendo destruído em prol de todos os homens e mulheres para a manutenção da lei e da ordem. Assim, os autores pensaram que poderiam retornar ao que havia antes de 2001 (como se fossem ótimas histórias...) e fazer uma Era Heroica.

 

 

A impossibilidade de uma era heroica nos tempos atuais mostra-se de maneira tão plena que tudo o que resta na mentalidade estadunidense é Fobos, o deus do medo. A “América” percebeu que tem cu uma era heroica é uma impossibilidade em termos, pois o medo ainda é presente no imaginário e para expurgá-lo ou mesmo problematizá-lo teremos uma nova série que, em alguma instância, pretende lidar com o que o povo que produz os heróis do século XX enfrenta – o incessante medo de um novo ataque.

Inté.

Um comentário:

  1. O americano parece ter um obsessão com o medo... com sua pOrÓpria destruição... pensemos em Guerra dos Mundos... ou naquela fatídica cena de destruição da Casa Branca no filme "Independe se deu" (algo assim)... ou a destruição nos filmes de intemépries naturais assolando o País (O Dia Depois de Aminhã?)... e pensar que tal obsessão nos levou a Fear Itself... putz... que lástima... que decepcção de HQ foi aquilo... tô envergonhado, pai...

    ps.: Dr. House... estou com uma dor no dedão e não sei se é apenas uma unha encravada OU SE É LUPUS... qual o mais provável?

    hehehe... putz... eu não conhecia aqui o Notas (mais um motivo de estar "envergonhado, pai")... pretendo voltar outras vezes (se eu não for bloqueado, é claro).

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