28 de março de 2012

Vale Tudo: Seus heróis e a corrupção (parte 02)*

* Texto originalmente publicado no site Pira RPG

Ontem, queridos nerds, iniciei o assunto da semana passada – o final da novela Vale Tudo. A introdução de uma pequena contextualização histórica serve tão somente para entendermos algumas partes da novela que comentarei em outras partes. Antes disso, porém, falemos de alguns personagens.

Os heróis da novela são o casal Ivan Meireles (Antonio Fagundes, o melhor galã de TODOS, TODOS, TODOS) e Raquel Acioli (Regina Duarte, a Sandy dos anos de 1970, 80). Ivan, para conseguir galgar o sucesso, começa a trabalhar na empresa da família Roitman como operador de Telex e consegue acesso fácil a toda informação importante da empresa, por meio de um terminal que está ligado a toda a rede interna da empresa. Seu superior permite que ele faça isso com um misto de curiosidade e perplexidade por estar acima de alguém com profundo conhecimento.


O leitor deve estar se perguntando - “mas como isso tem relação com a corrupção brasileira, Dr. House?”. Simples, caro leitor, Ivan foi anti-ético, utilizou seu conhecimento para a preparação de um dossiê que expunha a TCA como uma empresa com diversos problemas de infra-estrutura e de gastos.

O que ele ganha com isso? Um cargo na Diretoria da empresa e seu antigo superior se torna seu secretário particular (óbvio, uma espécie de cala boca com remuneração salarial maior). Mais a frente na novela, Ivan Meireles tem acesso a uma maleta com U$ 800 mil dólares. O que ele faz? Guarda a maleta por cerca de 50 capítulos e a perde graças a um golpe de Maria de Fátima. Mesmo com a insistência de Raquel para que a maleta fosse colocada num cofre (e não levada à polícia federal para averiguação dos donos de tamanha quantia), Ivan prefere deixá-la pertinho dele, o que se torna o estopim para a separação dos dois.

Raquel Acioli é uma mulher que tem dois hábitos. O primeiro é mudar o penteado em cada cena que aparece – uns 5 ou 6 penteados por episódio. O segundo é o julgamento moral do outro. Ela é a representante de um conservadorismo moral que poderíamos hoje comparar a uma evangélica radical. Para exemplificar, seu bordão: “Sangue de Jesus tem poder”. Católica, moralista (e não moralizante), colocando-se acima dos outros (mesmo estando numa situação completamente humilde), Raquel vai para o Rio de Janeiro morar numa pensão no Catete, pois sua filha vendera a casa da família em Foz do Iguaçu a fim de juntar dinheiro para dar um golpe no Rio de Janeiro (ou virar modelo, se preferir).


Sem dinheiro, com poucas roupas, Raquel decide vender sanduíches naturais na praia a fim de levantar verba para se estruturar no centro nervoso do Brasil. Aos poucos, Raquel consegue levantar uma quantia razoável para tentar algo mais ousado: um pequeno restaurante. Mas como não há dinheiro suficiente, mais uma vez o jeitinho brasileiro começa a dar suas caras. Ela aproveita-se da paixão de outro personagem por sua filha e convence-o a ser sócio dela, abrindo o maldito restaurante. Com isso, Raquel, que é uma cozinheira de mão cheia consegue, de pouco em pouco, convencer as pessoas a patrociná-la e vai ampliando seu negócio. Pois bem, a parte mais sinistra da história de Raquel não está na famosa maleta, pois ela, tal qual a atriz, tem muito medo de se meter em confusão (ou votar no Lula).

Não se trata disso. Após uma briga com sua filha que arranjara casamento com Afonso Roitman (Cassio Gabus Mendes), Raquel aceita uma gorda propina da Tia Celina que “foi com a cara” da Raquel – e, mais importante: conseguiu reconhecê-la após suas mudanças absurdas de cabelo. Obviamente, Celina não faria isso simplesmente porque ela é boazinha, mas porque Odete Roitman (Beatriz Segall) alertava-a sobre seus gastos. A condição para o patrocínio? Torná-la sócia da futura rede de alimentos Paladar.

Inté.

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