3 de abril de 2012

Meninada-Prodígio

Quem me conhece sabe que, na condição de alienígena sem visto de permanência, só assisto a telenovelas para melhor compreender a bagunça que impera no terceiro mundo (do sistema solar). Assim, assisti à primeira semana de Avenida Brasil, nova novela das oito/nove/dez.

E, sem dúvida, a atriz escoteira-mirim Mel Maia roubou a cena como estagiária de reciclagem. Após a morte do pai, Rita foi largada à própria sorte num lixão por obra e graça da dissimulada e fanfarrona vilã, a senhora sua madrasta Carminha.


Lá, Rita é ajudada pelo menino também catador Batata, que torna-se seu amigo e depois seu noivo (essas crianças de hoje são rápidas no gatilho – e olha que essa parte da trama se passa em 1999! Memórias das primeiras acusações da comunidade funkeira...). Imprescindível dizer que o maior encanto da garota é o fato de parecer uma menina normal, não uma criança superdotada ou brinquedo assassino, andróide ou algo do tipo. A personagem conversa com o olhar, revelando sua tristeza e sua compreensão limitada pela idade.

A televisão está repleta de crianças-prodígio. Não faz muito tempo que a dupla Yudi (o menino com mais de 18 aninhos) e a Priscila distribuía preisteixons no Bom dia e Cia, Sessão Desenho, Carrossel Animado ou sei lá o nome (sei apenas que eram os únicos programas do SBT que não mudavam de horário toda semana – passava sempre de manhã). Tenho a impressão de que eles já cresceram e passaram a apresentar o programa disfarçados de Patati e Patatá.


Celeiro de enfant terribles, muito antes do Gugu Liberato empregar como assistente de palco o Dani Boy, a emissora de Sílvio Santos contratou Maísa Silva (revelada no programa do Raul Gil, na Record) para apresentar o Sábado Animado, que chegou a derrotar o Tv Xuxa no Ibope – com direito a todo tipo de trollagem com qualquer criança que ligasse para a emissora.


A irrequieta e sagaz menina-monstro explodiu no SBT e, ainda em 2008, tomou de assalto o Programa Silvio Santos, ganhando um quadro próprio. A Shirley Temple brasileira deverá estrear em novelas em maio, no remake de Carrossel (sucesso mexicano que nos apresentou Cirilo, hoje estourado no vídeo viral “Para nossa alegria”).



O cinema também é pródigo no aproveitamento de infantes como os hoje ex-pequeninos e ex-astros Haley Joel Osment e Macaulay Culkin. Só não podemos admitir nesta lista Benjamim Button, o personagem nascido no conto de F. Scott Fitzgerald, adaptado para os quadrinhos e representado no cinema pelo Brad Pitt. Afinal de contas, o cara trapaceou, tornando-se uma criança prodígio apenas após uma vida inteira como velho, adulto jovem e adolescente.


Por outro lado, gigante em talento e com o punch necessário para ser a bisneta de Marlon Brando, a atriz Chloë Moretz surgiu como uma promessa em Hollywood, e esculachou vagabundo como a Hit-Girl, a vigilante mais nova e competente de Kick-Ass, filme sobre malucos pessoas comuns uniformizadas tentando aparecer combater o crime, baseado na HQ de Mark Millar e John Romita Jr.


Nos quadrinhos, temos uma constelação de estrelas mirins trajando vermelho, como a baixinha e dentuça Mônica e a feminista e inocente Luluzinha (que existem em diversas épocas simultaneamente, como o Dr. Manhattan, vide as versões aborrescentes das duas).


No universo DC, Batman já é papai, e seu filhote é o atual Robin. Damien é um pônei maldito assassino, mas é claro que Bruce Wayne aliviou a do filho ao invés de mandá-lo para a Funabem. Nota mental: Substituir essa citação. Denuncia minha idade.


A verdade é que uma criança assassina já não choca tanto quanto antes. Na internet, convivemos com o já “clássico” vídeo de um menino em tenra infância assassinando a indefesa formiguinha do próprio irmão.

Infelizmente, nesse mundo, todos querem fama a qualquer preço, e cada vez mais cedo. Em breve, saberemos que o Show de Truman foi planejado pelo próprio Jim Carrey, dentro da barriga de sua mãe.


Então, até...

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