4 de abril de 2012

Vale Tudo – Os vilões bizarros do Brasil (parte 03)*

Artigo publicado originalmente no blog PiraRPG

Se os heróis são corruptos e antiéticos, imagine os vilões da história?! Bem, sobre esses vamos comentar somente sobre quatro – Odete Roitman, Marco Aurélio, Maria de Fátima Acioli, César Ribeiro.


Vilões de novela, nos dias de hoje, são espertos, inteligentes, sagazes, mas mostram-se loucos ou mesmo punidos ao final do enredo, correto? Isso não ocorre em Vale Tudo. Esse quarteto introjetou o jeitinho brasileiro de tal forma que o leva ao seu extremo negativo. Tanto Odete Roitman, quanto Maria de Fátima Acioli ascendem socialmente por meio de um golpe do baú. Enquanto o golpe de Odete a torna presidente da TCA – grupo aeronáutico doméstico que poderia ser comparado à empresa No Ar –, Maria de Fátima Acioli tenta o mesmo movimento com Afonso Roitman, mas essa segunda versão do mesmo golpe é interrompida pelo caráter negativo do “jeitinho”.

O “jeitinho brasileiro” nada mais é do que um plano de ação em que a pessoa tenta alguma vantagem sem ter a menor competência para tal ato. O que acontece, então, é um divertido sistema de improvisações em que mentir, negar e armar situações é válido para que o objetivo principal seja alcançado.
Essa metodologia cotidiana deixa, em contrapartida, um sem número de rastros que podem ser descobertos de inúmeras formas e que podem ou não determinar o sucesso ou fracasso daquele que se utiliza de tal expediente. O objetivo de Maria de Fátima é o enriquecimento, seu expediente é o golpe do baú, mas ela não é Odete Roitman e comete um erro de princípio.


A grande diferença entre o primeiro golpe (Odete) e o segundo golpe (Maria de Fátima) está em Cesar Ribeiro. Cesar é o catalisador de Maria de Fátima. Modelo, mas pobre. Michê, mas pobre. Ego enorme, inversamente proporcional às suas sungas; Cesar Ribeiro é um bon-vivant que se aproveita de Maria de Fátima (que, obviamente é apaixonada pelo rapaz) e prepara o enriquecimento rápido. De fato, trata-se de um enriquecimento rápido, pois após dois anos de casamento com Afonso, Fátima poderia pedir o divórcio e ganharia 2 milhões de dólares somente abrindo as pernas de quando em quando para o maridão e de sempre em sempre para Cesar Ribeiro.

Quando o plano dos dois não dá certo, Cesar nota que não é mais o garotão de antes e utiliza sua beleza para seduzir Odete Roitman (a velha se amarra num garotão e isso é mostrado diversas vezes durante a trama), o que dá certo por um breve período. Entretanto, Odete descobre o envolvimento permanente de Cesar com Maria de Fátima e rompe o relacionamento (mesmo estando apaixonada e desistindo da Presidência da TCA). Cesar, então, encontra-se num mato sem cachorro, mas a morte da principal vilã faz com que ele tenha uma nova oportunidade.

Cesar é um dos poucos que suspeitam de quem é o verdadeiro assassino e isso permite que ele consiga rapidamente uma soma para sair do país, o que permite a ele um envolvimento com um príncipe estrangeiro – e gay – que quer se lançar por um partido conservador italiano e, para tal, precisa se casar. Ou seja, Cesar e Fátima utilizam o “jeitinho brasileiro” de maneira cíclica, pois a novela termina com um novo golpe do baú para esses personagens, o que implica no abandono do filho do casal para que essa nova tentativa de enriquecimento rápido seja minimamente bem sucedida.


Marco Aurélio é, de fato, o maior vilão da trama. Especialista no “jeitinho brasileiro” e na política do favor, ele sobe os degraus da empresa por meio de trocas e espertezas mil. Quando a trama se inicia, ficamos sabendo que ele e Heleninha Roitman (alcoólatra, metida a artista e utilizando roupas masculinas com o cabelo da Tina Turner em Mad Max – Além da Cúpula do Trovão) foram casados e tiveram um filho.

Isso fez com que Odete o transformasse em Vice-Presidente da empresa, pois sabia de seu potencial em aproveitar-se das situações mais lucrativas. Pouco a pouco, vamos descobrindo que, além da empresa, Marco Aurélio age para enriquecer o seu próprio bolso, desviando pequenas somas em dinheiro por debaixo dos panos e manipulando o mercado de ações carioca e paulista. É claro que toda sua malemolência não tem sucesso sempre, mas, de qualquer forma o vilão consegue fugir e mostra aos brasileiros seu eterno carinho mandando-lhes uma banana.

Semana que vem daremos alguns motivos que apontam para cunhar esta novela como um autêntico artefato nerd brasileiro.

Inté…

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