29 de agosto de 2011

Ias Jornadas Internacionais de HQ – USP – Dia 01 – Abrindo os trabalhos com os primórdios da pesquisa

Dizem por aí que os nerds brasileiros costumam se interessar pelos mais variados assuntos desde que se apaixonem por ele. Não digo que isso seja verdade, mas também não afirmo que seja mentira, pois o mundo nerd brasileiro é bastante poluído com relação a ruídos de outros países em que a nerdice se tornou moda... Essa observação revela o caráter problemático do tema dessa série de Na Balada – vamos falar aqui do primeiro evento exclusivo para pesquisadores do tema quadrinhos no Brasil.

Verdade seja dita – o Brasil sempre esteve na vanguarda das pesquisas sobre quadrinhos, e sempre desmereceu tal posto. O público nerd em geral deve ignorar tal fato, mas como um Nerd-Troll Supremo, posso tecer alguns comentários antes da análise em si. A primeira exposição sobre Quadrinhos foi realizada em 1951, quando Álvaro de Moya, no dia 18 de junho, junto a Jayme Cortez, Syllas Roberg, Reinado de Oliveira e Miguel Penteado organizaram a Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, no Centro de Cultura e Progresso (SP). A iniciativa inédita em todo o planeta pautou-se na discussão e importância dos comics para a primeira metade do século XX. A proposta era realmente abrangente e contemplava a importância dos Quadrinhos para outros criadores de arte (cinema, literatura, pintura, etc), além de estar antenada com a recente discussão no Senado Americano provocada pelo interessante livro de Fredric Wertham (nota: por mais que o livro seja maldito para a evolução corrente nos quadrinhos, vários pesquisadores resvalam em suas conclusões ou por desconhecimento do tema, ou por preconceito elitista mesmo).

Não foi somente com relação aos eventos que somos pioneiros, mas também na publicação de livros que têm os quadrinhos enquanto tema central (Wertham, nesse caso, não é considerado, pois seu tema era a delinquência juvenil). Moacy Cirne, publica, em 1970, o primeiro livro em que se esquadrinha a linguagem das HQ – Boom! A explosão criativa dos quadrinhos – e Álvaro de Moya, meses depois, publica Shazam!, com uma abordagem múltipla e interdisciplinar (antes mesmo da existência do termo). Somos, ainda o primeiro país ocidental a tematizar teoricamente o tema, com Sonia Luyten, em plenos anos 1980.

O leitor já percebeu onde quero chegar: o Brasil, antes mesmo de se firmar como uma “potência” econômica emergente, já possuía intelectuais preocupados em entender o que os quadrinhos significam para a dinâmica cultural de seu tempo. Nada mais justo, então, que a abertura do evento trouxesse os pioneiros para falar de sua experiência acerca do tema.

 

A mesa composta com Waldomiro Vergueiro (mediador), Antonio Luiz Cagnin, Sonia Luyten, Moacy Cirne e Álvaro de Moya contou com a defesa do pioneirismo brasileiro acerca da pesquisa acadêmica em quadrinhos bem como com a irreverência dos participantes. É notável o bom humor do quarteto e a troca de experiências propostas por eles. A única ressalva foi com relação à fala de Sonia Luyten que, em determinado momento, defendeu que a pesquisa acadêmica de quadrinhos deveria se concentrar somente na produção brasileira. Considero um erro porque os maiores centros em pesquisas sobre latim e grego, por exemplo, se encontram na Alemanha (país de língua anglo-saxônica), o maior centro de pesquisa sobre cinema hollywoodiano se encontra na Itália (e não nos EUA), ou seja, não há porque, no Brasil, a excelência em pesquisa ser tão somente bairrista...

Outro fato, considerando o bairrismo apresentado por Luyten posteriormente, foi a fala de abertura de Waldomiro que defendeu que a USP é o maior centro de excelência do tema. Não há desacordo quanto ao assunto, mas defender que S. Paulo publicou o primeiro livro sobre quadrinhos foi algo consertado rapidamente por Cirne em sua fala e por qualquer um que consiga levantar rapidamente a bibliografia do tema. Na verdade, não importa muito quem é o centro de excelência, pois este é um dado atribuído por outrem, o que importa é que todos estão ali para trocar informações e linha de análise sobre a pesquisa de quadrinhos no Brasil.

Mesmo assim, a abertura marcou o tom de todo o evento, profissionais em pesquisa de quadrinhos tentando entender o fenômeno que perpassou o século XX e XXI, com as mais diversas abordagens e preparando o terreno para um escopo deveras impressionante do objeto de análise.

Inté.

Um comentário:

  1. eventos assim acabando por determinar um olhar muito mais sério para com as histórias em quadrinhos. Vida longa as Jornadas.

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