12 de setembro de 2011

Especial 11/09 – Oba-oba editorial, booom e vamos falar sério (parte 02)

O leitor deve ter achado estranho que, durante todas as coberturas sobre 11/09 (Band News, Globo News, NatGeo, History, Discovery, entre outros) um misto de tristeza, saudades dos entes queridos e nostalgia do tempo anterior ao mega-atentado (pois é burrice inadequado achar que foram atentados – dá uma ideia errada do ocorrido...). O leitor que acompanha esse blog há algum tempo já percebeu que eu tenho uma questão a propor e é esta: por que os estadunidenses passam por essa sensação de nostalgia?

É estranha mesma essa sensação, já que, no campo dos quadrinhos, a década final do século XX foi desastrosa como disse na primeira parte. Foi tão desastrosa para a Marvel que, por pouco, seus heróis não estariam hoje fazendo Moonwalker... Mas não só isso, um ano antes do atentado, tivemos a invasão mangá nos EUA. As vendas de super-heróis na época estavam despencando e a Marvel promoveu uma enorme invasão de artistas influenciados no estilo para trabalhar com suas personagens, mas o que mais chama a atenção é a linha editorial que ficou conhecida como Mangaverso.

 

 

Essa iniciativa foi a tentativa da Marvel de dar sua interpretação do fenômeno mangá. Ainda no oba-oba do final da Guerra Fria, a primeira investida os desenhos orientais seguiram uma linha alegre de histórias. Personagens alegres e até um Wolverine sorridente ingressaram nas edições do Mangaverso de 2000. Em 2001, tudo mudou. A segunda série do Mangaverso, além do deslocamento da maioria das histórias para o Japão, esgotos, ou seja lá o que não seja os EUA – mostrou suas personagens mais amargas, mais tristes e menos sorridentes. Ou seja, a incapacidade de se lidar com um ataque frontal e direto que violava TODOS os tratados de guerra e que não poderia, por esses mesmos tratados, ter alguma nação como culpada, marcou de maneira indelével a mentalidade dos artistas que trabalhavam no mainstream dos super-heróis.

Há de se notar um problema: não era a menor novidade a formulação de ataques no território americano do ponto de vista ficcional que seguia o mesmo sistema de culpabilidade. Nos anos 1980, Capitão América enfrentou por diversas vezes o terrorista Apátrida. Na mesma década, o mesmo Sentinela da Liberdade enfrentava a Irmandade da Serpente, uma espécie de culto que se centrava na liderança de um único homem e atacava NY sistematicamente. Além disso, tínhamos diversos estrangeiros na Marvel que atacavam o Edifício Baxter, o Four Freedoms Plaza, enormes prédios ficcionais que estavam no imaginário de qualquer adolescentes nerd nos EUA. Deve-se notar também que, devido à quantidade de gorduras consumidas em território estadunidense, uma grande parcela da população pode ser definida como nerds gordinhos, pois a vergonha e a inibição concernentes com o American Way of Life – The Dark Side...

 

 

Em alguma medida, então, a ficção em quadrinhos de super-heróis estava a mostrar, repetidas vezes, como um ataque frontal e direto aos EUA seria traumatizante ao povo americano. Com isso, não afirmo que os terroristas leram quadrinhos. Seria uma afirmação leviana, mas posso dizer que o exército, o governo e a população daquele local sabia que, se algo ocorresse, seria um desastre no que chamamos de conceito patriótico. Dessa forma, os quadrinhos, que são aqui o objeto privilegiado, mostra que o impacto de um ataque em território americano mudaria o conceito de nação americana como um todo. A diferença entre ficção e realidade, porém, é esta: enquanto nos quadrinhos a fórmula de Umberto Eco ainda se seguia – ao final de uma história as consequências seriam minimizadas em prol da manutenção do status quo –, um ataque em território americano, se bem orquestrado, mudaria os EUA.

As iniciativas da Marvel Comics após 2001 mostram exatamente isso. Em 2001, duas novas linhas editoriais foram lançadas – Marvel Knights e a linha Max. Ambas são, de alguma forma, uma tentativa de reação com relação ao ocorrido em setembro de 2001. Enquanto a primeira era uma tentativa de reestabelecimento desse novo imaginário em formação, a segunda era a repetição da vingança e da fodacidade supremacia bélica do país. Marvel Knights, apesar da qualidade individual das histórias, mostra como o trauma seria difícil de ser suportado pelo povo americano e como as diversas visões das personagens começavam a concorrer por uma determinada hegemonia no imaginário.

 

 

Ao mesmo tempo, Mark Millar e Brian Michael Bendis iniciavam o Ultimate Marvel...

Inté.

Nenhum comentário:

Postar um comentário