4 de novembro de 2011

Boa da semana: Watchmen – Edição definitiva (ou seria “Na livraria, o que fazer?”)

Os leitores desse blog (totalizando 4 que comentam e mais nossos 10 fantasmas) viram que, semana passada, o Sr. Delarue (o presidente do Notas Nerds) mandou um memorando a todos nós para que iniciássemos um post semanal a mais. Para não ser despedido e voltar de maneira apoteótica (tal qual Jobs), decidi obedecer e vou chover um pouco no molhado falando de Watchmen – Edição definitiva, publicada pela Panini Brasil há tempos atrás e sempre presente na livraria mais perto de você.


O leitor deve perceber que falar de Watchmen nunca é chover no molhado, pois para cada leitura que temos com o avançar dos tempos a própria obra de Alan Moore e Dave Gibbons se atualiza na mente de novos leitores, tornando a obra cada dia mais interessante para novos e novos tempos. Então, se você é um jovem criado a Ovomaltine com leite de pera, prepare-se para uma devastadora justificativa para a re-re-re-releitura das aventuras de Ozymandias e Dr. Manhattan.

Moore e Gibbons desenvolvem uma nova dimensão do relacionamento humano. E agora o leitor se ferra? “Ué, não vai falar de super-heróis, Dr. House?” Não. O leitor de Watchmen não é apresentado a super-heróis, mas a VIGILANTES... Historicamente falando, a geração dos vigilantes se deu num curtíssimo espaço de tempo (no finalzinho do século XIX), mas isso talvez tenha gerado o maior mito americano. Segundo o mito, todo homem poderia tomar a justiça (branca, etnocêntrica, xenófoba e extremamente ignorante e preconceituosa) nas próprias mãos e tornar-se-á uma lenda. A premissa de Moore e Gibbon é, em parte, esta: não há super-heróis, há vigilantes, pessoas que vestem roupas espalhafatosas (como todo o excesso dos primeiros anos do século XX) e auxiliam a mostrar a supremacia americana para o resto do mundo.


Moore e Gibbons abordam vários aspectos da sociedade estadunidense. Eles lembram, entretanto, de que se trata de um ambiente humano. E agora o leitor vai enlouquecer, se não tiver enlouquecido antes... E como todo ambiente humano é regido pela inveja. Todo o núcleo de personagens em Watchmen possuem inveja de algo ou alguém. A primeira esposa de Dr. Manhattan possui inveja da juventude da segunda Espectral, o segundo Coruja possui inveja do Dr. Manhattan e da paixão que Espectral lhe rende. Há dois personagens, porém, que se rendem de tal forma à inveja que surpreendem o leitor desde o primeiro instante que os vemos na obra.


Obviamente, refiro-me ao Comediante e a Ozymandias, pois os dois estão em lados aparentemente opostos da balança. Ozymandias não se compara ao resto dos homens, ele se compara à imagem histórica de Alexandre, o Grande. Ele trata o grande conquistador do mundo como um rival que deve superar, mesmo que ninguém saiba o que o próprio fará. Ozymandias está tão acima dos outros homens que ele pode supor-se comparável ao próprio Alexandre, mas essa comparação é falha, pois tudo que o personagem possui é uma fantasmagoria do próprio Alexandre que ele invejará e fará de tudo para tentar superá-lo, é, por esse motivo que o comportamento final de Ozymandias é tão fascinante e tão estranho ao leitor, pois, quando ele consegue superar Alexandre (como um demente D. Quixote de La Mancha) ele vê o nada que é a vida humana.


O Comediante, por outro lado, tenta não invejar ninguém – com sua frase mais dramática – “Eu achei que sabia das coisas… como o mundo funcionava, mas aí me dei conta da piada…” –, ele nada mais, nada menos, inveja toda a humanidade, pois sabe que, encarando o mundo dessa forma e não podendo fugir dessa constatação, ele nunca poderá estabelecer nenhuma relação “humana”, ou seja, não poderá revelar-se como pai, não poderá revelar-se como amante, não poderá revelar-se como homem no sentido mais comum do termo. Sob esse aspecto, ele se aproxima mais de Manhattan do que Ozymandias, pois a única coisa que o faz mover-se é saber que os homens se enganaram há muito tempo e tudo o que os move é o desejo que se supõe do outro e se quer para si. Dr. Manhattan, entretanto, por estar fora da humanidade, o que significa dizer que gradativamente ele vai deixando de desejar algo, revela-se em toda a sua divindade quando deixa a Terra por Marte e reafirma isso no final da obra.


Ler Watchmen esquecendo-se da “revolução super-heróica”, é ler uma obra que tem muito mais relação com a humanidade em si do que se supõe, mesmo com os colates, roupas extravagantes e com toda a parafernália apresentada pelo Coruja. Caro leitor, tente rever a obra nesse final de semana e, nos comentários, faça suas críticas para minha hipótese, que se relaciona não só com a obra mas com a estrutura do desejo humano como um todo.


Inté.

7 comentários:

  1. Excelente texto, Dr. House... acho que essa semana você tá salvo no emprego... ehehe... estilo Garrincha....

    O problema é que eu olho para essa imagem de exibição da edição definiva E CHORO... auhauuauauh!!! Não tinha grana na época para comprar a edição cavala, comprei a "pobre edition" da Panini... auhuauauah... E QUANDO TINHA GRANA, ESTAVA ESGOTADA A BAGAÇA... pqp...

    De qualquer forma, Watchmen é leitura obrigatória para qualquer um que se julgue um "nerd de quadrinhos" (segundo a taxonomia proposta por Felipe Gomes)... essa monumental obra e essa presente análise por uma nova perspectiva só servem para corroborar um fato óbvio: WATCHMEN 2 É UMA AFRONTA AOS QUADRINHOS E À OBRA EM SI... É LAMENTÁVEL A ATITUDE DA DC EM RETOMAR O UNIVERSO DOS VIGILANTES DE MOORE... PRINCIPALMENTE POIS NÃO É O MOORE À FRENTE DA OBRA EM QUESTÃO...

    ResponderExcluir
  2. Cara, difícil "meter a colher" em conversa de doutores, mas sou cara de pau mesmo... Manhattan, entendo sua indgnação com a atuação da DC e o bendito Watchmen 2, mas HQ deixou de ser arte há muito tempo e isso já era mais do que esperado. Bussiness é bussiness e re$ultado é o que se espera...

    Vai ser uma merda? Possivelmente. Entretanto a única coisa que podemos fazer a respeito é não comprar...

    Aquele universo tem um grande potencial, seja por aumentar $$ dos acionistas da Warner ou para desenvolvimento de boas histórias. O que resta é esperar que não saiam merdas muito fumegantes e a segunda opção vença. Numa visão extremamente otimista, quem sabe casam-se as duas?

    ResponderExcluir
  3. Sr. VinterKing falando como um colega da classe de administradores rsrs.
    E sou obrigado a concordar com meu distinto colega. A indústria e, por consequência, os acionistas não veem WatchmAn (como diria meu colega Joker, o palhaço) como algo icônico, quase sagrado como nós fanboys vemos a obra.
    A intenção dos acionistas nada mais é encher o toba de $$$ com algo que é venerado por 10 entre 10 fãs de hqs.
    Mas pretendo fazer com faço com DK2 - fingir que não existe.
    Mas ainda vejo algo bom (me chame de maluco) nesse cenário todo que não convém encher mais a caixa de comentários de meus estimados colegas.

    Excelente texto Dr.!!

    ResponderExcluir
  4. Bem... Eu não sei vocês dois... mas assim que sair "Watchmen 2" eu vou me sentar em um canto escuro e chorar copiosamente... UAHUAUAUAHUAUAUHUA!!!

    ResponderExcluir
  5. Bem... Eu não sei vocês dois... mas assim que sair "Watchmen 2" eu vou me sentar em um canto escuro e chorar copiosamente... UAHUAUAUAHUAUAUHUA!!!


    Se começar a imitar o Moe, vai ter que pagar pro BdE.

    ResponderExcluir
  6. a única coisa que podemos fazer a respeito é não comprar...

    Bem... Eu não sei vocês dois... mas assim que sair "Watchmen 2" eu vou me sentar em um canto escuro e chorar copiosamente...


    Tinha esquecido desta possibilidade, Dr. Manhattan. huahuahuahua

    ResponderExcluir