Os leitores desse blog (totalizando 4 que comentam e mais nossos 10 fantasmas) viram que, semana passada, o Sr. Delarue (o presidente do Notas Nerds) mandou um memorando a todos nós para que iniciássemos um post semanal a mais. Para não ser despedido e voltar de maneira apoteótica (tal qual Jobs), decidi obedecer e vou chover um pouco no molhado falando de Watchmen – Edição definitiva, publicada pela Panini Brasil há tempos atrás e sempre presente na livraria mais perto de você.
O leitor deve perceber que falar de Watchmen nunca é chover no molhado, pois para cada leitura que temos com o avançar dos tempos a própria obra de Alan Moore e Dave Gibbons se atualiza na mente de novos leitores, tornando a obra cada dia mais interessante para novos e novos tempos. Então, se você é um jovem criado a Ovomaltine com leite de pera, prepare-se para uma devastadora justificativa para a re-re-re-releitura das aventuras de Ozymandias e Dr. Manhattan.
Moore e Gibbons desenvolvem uma nova dimensão do relacionamento humano. E agora o leitor se ferra? “Ué, não vai falar de super-heróis, Dr. House?” Não. O leitor de Watchmen não é apresentado a super-heróis, mas a VIGILANTES... Historicamente falando, a geração dos vigilantes se deu num curtíssimo espaço de tempo (no finalzinho do século XIX), mas isso talvez tenha gerado o maior mito americano. Segundo o mito, todo homem poderia tomar a justiça (branca, etnocêntrica, xenófoba e extremamente ignorante e preconceituosa) nas próprias mãos e tornar-se-á uma lenda. A premissa de Moore e Gibbon é, em parte, esta: não há super-heróis, há vigilantes, pessoas que vestem roupas espalhafatosas (como todo o excesso dos primeiros anos do século XX) e auxiliam a mostrar a supremacia americana para o resto do mundo.
Moore e Gibbons abordam vários aspectos da sociedade estadunidense. Eles lembram, entretanto, de que se trata de um ambiente humano. E agora o leitor vai enlouquecer, se não tiver enlouquecido antes... E como todo ambiente humano é regido pela inveja. Todo o núcleo de personagens em Watchmen possuem inveja de algo ou alguém. A primeira esposa de Dr. Manhattan possui inveja da juventude da segunda Espectral, o segundo Coruja possui inveja do Dr. Manhattan e da paixão que Espectral lhe rende. Há dois personagens, porém, que se rendem de tal forma à inveja que surpreendem o leitor desde o primeiro instante que os vemos na obra.
Obviamente, refiro-me ao Comediante e a Ozymandias, pois os dois estão em lados aparentemente opostos da balança. Ozymandias não se compara ao resto dos homens, ele se compara à imagem histórica de Alexandre, o Grande. Ele trata o grande conquistador do mundo como um rival que deve superar, mesmo que ninguém saiba o que o próprio fará. Ozymandias está tão acima dos outros homens que ele pode supor-se comparável ao próprio Alexandre, mas essa comparação é falha, pois tudo que o personagem possui é uma fantasmagoria do próprio Alexandre que ele invejará e fará de tudo para tentar superá-lo, é, por esse motivo que o comportamento final de Ozymandias é tão fascinante e tão estranho ao leitor, pois, quando ele consegue superar Alexandre (como um demente D. Quixote de La Mancha) ele vê o nada que é a vida humana.
O Comediante, por outro lado, tenta não invejar ninguém – com sua frase mais dramática – “Eu achei que sabia das coisas… como o mundo funcionava, mas aí me dei conta da piada…” –, ele nada mais, nada menos, inveja toda a humanidade, pois sabe que, encarando o mundo dessa forma e não podendo fugir dessa constatação, ele nunca poderá estabelecer nenhuma relação “humana”, ou seja, não poderá revelar-se como pai, não poderá revelar-se como amante, não poderá revelar-se como homem no sentido mais comum do termo. Sob esse aspecto, ele se aproxima mais de Manhattan do que Ozymandias, pois a única coisa que o faz mover-se é saber que os homens se enganaram há muito tempo e tudo o que os move é o desejo que se supõe do outro e se quer para si. Dr. Manhattan, entretanto, por estar fora da humanidade, o que significa dizer que gradativamente ele vai deixando de desejar algo, revela-se em toda a sua divindade quando deixa a Terra por Marte e reafirma isso no final da obra.
Ler Watchmen esquecendo-se da “revolução super-heróica”, é ler uma obra que tem muito mais relação com a humanidade em si do que se supõe, mesmo com os colates, roupas extravagantes e com toda a parafernália apresentada pelo Coruja. Caro leitor, tente rever a obra nesse final de semana e, nos comentários, faça suas críticas para minha hipótese, que se relaciona não só com a obra mas com a estrutura do desejo humano como um todo.
Excelente texto, Dr. House... acho que essa semana você tá salvo no emprego... ehehe... estilo Garrincha....
ResponderExcluirO problema é que eu olho para essa imagem de exibição da edição definiva E CHORO... auhauuauauh!!! Não tinha grana na época para comprar a edição cavala, comprei a "pobre edition" da Panini... auhuauauah... E QUANDO TINHA GRANA, ESTAVA ESGOTADA A BAGAÇA... pqp...
De qualquer forma, Watchmen é leitura obrigatória para qualquer um que se julgue um "nerd de quadrinhos" (segundo a taxonomia proposta por Felipe Gomes)... essa monumental obra e essa presente análise por uma nova perspectiva só servem para corroborar um fato óbvio: WATCHMEN 2 É UMA AFRONTA AOS QUADRINHOS E À OBRA EM SI... É LAMENTÁVEL A ATITUDE DA DC EM RETOMAR O UNIVERSO DOS VIGILANTES DE MOORE... PRINCIPALMENTE POIS NÃO É O MOORE À FRENTE DA OBRA EM QUESTÃO...
Cara, difícil "meter a colher" em conversa de doutores, mas sou cara de pau mesmo... Manhattan, entendo sua indgnação com a atuação da DC e o bendito Watchmen 2, mas HQ deixou de ser arte há muito tempo e isso já era mais do que esperado. Bussiness é bussiness e re$ultado é o que se espera...
ResponderExcluirVai ser uma merda? Possivelmente. Entretanto a única coisa que podemos fazer a respeito é não comprar...
Aquele universo tem um grande potencial, seja por aumentar $$ dos acionistas da Warner ou para desenvolvimento de boas histórias. O que resta é esperar que não saiam merdas muito fumegantes e a segunda opção vença. Numa visão extremamente otimista, quem sabe casam-se as duas?
Sr. VinterKing falando como um colega da classe de administradores rsrs.
ResponderExcluirE sou obrigado a concordar com meu distinto colega. A indústria e, por consequência, os acionistas não veem WatchmAn (como diria meu colega Joker, o palhaço) como algo icônico, quase sagrado como nós fanboys vemos a obra.
A intenção dos acionistas nada mais é encher o toba de $$$ com algo que é venerado por 10 entre 10 fãs de hqs.
Mas pretendo fazer com faço com DK2 - fingir que não existe.
Mas ainda vejo algo bom (me chame de maluco) nesse cenário todo que não convém encher mais a caixa de comentários de meus estimados colegas.
Excelente texto Dr.!!
Bem... Eu não sei vocês dois... mas assim que sair "Watchmen 2" eu vou me sentar em um canto escuro e chorar copiosamente... UAHUAUAUAHUAUAUHUA!!!
ResponderExcluirBem... Eu não sei vocês dois... mas assim que sair "Watchmen 2" eu vou me sentar em um canto escuro e chorar copiosamente... UAHUAUAUAHUAUAUHUA!!!
ResponderExcluirSe começar a imitar o Moe, vai ter que pagar pro BdE.
a única coisa que podemos fazer a respeito é não comprar...
ResponderExcluirBem... Eu não sei vocês dois... mas assim que sair "Watchmen 2" eu vou me sentar em um canto escuro e chorar copiosamente...
Tinha esquecido desta possibilidade, Dr. Manhattan. huahuahuahua
eu sou fantasma |:
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