*publicado originalmente em PIRA RPG
Um ano de Reinado Sombrio, a publicação especial da Panini que tenta dar conta da profusão de títulos que, nos Estados Unidos da América, receberam o nome de Dark Reign. Com o final da Invasão Skrull, percebe-se que o maior trunfo de Norman Osborn foi a interceptação de dados (via Deadpool) que possibilitaram a queda da Rainha Skrull e desmantelamento da invasão. Dessa forma, Barak Obama não tem outra saída a não ser nomear Osborn como Chefe de Segurança e Espionagem dos EUA.
A primeira história de Reinado Sombrio, escrita por Andy Diggle e desenhada por Roberto de La Torre, coloca Osborn em uma espécie de CPI acerca do ato final da represália humana na guerra Skrull. Esclarecendo ao leitor que uma CPI não demanda absolutamente nada, como em nosso país, Osborn deixa a sala para um encontro com o presidente, mas, antes disso, deixou claro aos membros do CAS que ele teria a concentração de poder necessária para tomar conta da segurança interna e externa dos Estados Unidos. O curioso disso é que Anthony Stark teve praticamente o mesmo papel, mas foi um insucesso total graças ao desmantelamento da tecnologia Stark. O que pode parecer inicialmente um erro da administração Obama, promete ser um acerto em termos de marketing governamental, haja vista o fato de Osborn ter-se tornado rapidamente o homem-chave, o verdadeiro empreendedor mór da nação.
Havia, além da reunião presidencial, algo mais que deveria ser encerrado – o programa Thunderbolts. Norman Osborn era o diretor-geral do programa e, como vimos durante o ano de 2009, Osborn cometeu atos que deveriam, no mínimo, deixar nossos Maluff e Sarney muito felizes. O encerramento do programa Thunderbolts ficou a cargo de Rocha Lunar – psiquiatra, líder de campo e ninfomaníaca de carteirinha. O primeiro ato de Karla Sofen é neutralizar o membro mais poderoso do grupo, o intempestivo Suplício. E qual seria a maneira mais fácil de se derrotar um esquizofrênico superpoderoso? Enchê-lo de tranquilizantes.
A psiquiatra, com isso,pode soltar Venom e Mercenário para terminar o serviço que significa matar Soprano e Homem Radioativo. Ou seja, Norman Osborn parte do princípio de que assuntos internos devem ser consertados/encerrados internamente. Obviamente, isso dará pano para manga nas próximas edições, mas o que nos interessa é a capacidade de Osborn em gerir diversas iniciativas ao mesmo tempo.
A segunda história da primeira edição de Reinado Sombrio traz a história dos Guerreiros Secretos, um grupo formado pelo, até então, sumido Nick Fury que pretende expor Osborn e entender a recém-descoberta manipulação da SHIELD pela Hidra. Enquanto observamos Fury, vemos como Osborn colocará as suas diretrizes de defesa em funcionamento, segundo ele:
...isto não será uma mera continuação das políticas falhas e arrogantemente ambiciosas como a iniciativa de Stark. Eu trarei um novo conjunto de valores... Novas prioridades para o cargo que ocupo. Estou ansioso para fazer o meu trabalho.
Isso nos revela algumas questões. A ordem da principal nação do Ocidente está mudando e isso implica a reavaliação de determinadas alianças. A terceira história do mix de Reinado Sombrio, escrita por Brian Michael Bendis e Alex Maleev nos desenhos, esclarece o ponto. Osborn propõe uma união secreta entre os principais detentores de poder do mundo Marvel – Dr. Destino (detentor de boa parte da magia negra), Namor (Rei dos Oceanos), Loki (segundo em comando em Asgard), Rainha Branca (co-líder da nação mutante), Capuz (o novo Rei do Crime dos Estados Unidos da América). A história recente da política do Rio de Janeiro mostrou, por duas oportunidades uma Cabala parecida com a Marvel. Quem desconhece as iniciativas de Leonel Brizola e Garotinho para o combate ao crime? A enorme diferença é que sabemos o que aconteceu ao Rio de Janeiro...
Essa Cabala tem a pretensão de manter uma fina disposição de poderes no mundo. Dessa forma, Osborn poderia manter os olhos fechados para determinados lances de cada um deles, além de oferecer proteção para cada um deles. Mais uma lição de Osborn – mantenha seus inimigos sempre dependendo de você. Se os seus inimigos não dependem mais de você, faça isso:
O grande problema é que, como qualquer leitor de HQ's da Marvel sabe, Norman Osborn é um homem que sofre de um distúrbio bipolar grave, ou seja, Normie possui dupla personallidade. Uma delas é o famosos empresário e comandante de defesa dos EUA, a outra é a mais conhecida – um carinha que acha que o Homem-Aranha é o seu filho intelectual e que usa uma certa roupinha verde de carnaval a voar por aí jogando abóboras... Ao matar o Espadachim, Normie percebe que pode perder o controle e, para que isso não aconteça, ele precisa de uma coleira que o controle quando for necessário. Com isso em mente, Osborn contrata Victoria Hand para que seja sua Vice-Diretora no MARTELO (na quarta e última história, de Michael Bendis e Deodato na arte), a nova super-agência de espionagem e manutenção da paz de Osborn. Acima de tudo, Hand será a coleira simbólica de Osborn – aquela com a qual o diretor do MARTELO não poderá discordar.
Agora, Norman Osborn precisa de um espelho para a realidade vindoura. Ou seja, como qualquer administrador público, Normie precisa projetar suas tendências para um novo mundo. Assim, surge uma nova formação dos Vingadores – Patriota de Ferro (Norman Osborn), Miss Marvel (Karla Sofen – ex-Rocha Lunar), Gavião Arqueiro (Mercenário), Sentinela (Robert Reynolds), Ares (o deus da Guerra Olimpiano), Homem-Aranha (ex-Venom, Mac Gargan – ex-Escorpião), Wolverine (Daken, o filho de Logan) e Capitão Marvel (ex-Marvel Boy). Aqui temos a síntese do plano de Osborn, totalmente colocado de maneira simbólica numa estonteante aparição pública de apresentação. É claro que os Vingadores, através do tempo, utilizaram o mesmo recurso, mas Osborn o faz para demonstrar todo o poder bruto sob seu comando,mas há algo mais: temos dois homens com dupla personalidade (Sentinela e Patriota de Ferro), três sociopatas (Venom, Ares e Mercenário), uma ninfomaníaca (Miss Marvel),um manipulador psicótico (Wolverine) e um outsider (Capitão Marvel). Aqui não se trata de dar oportunidades aos excluídos, mas contralá-los e mostrar a força de que dispõe para derrotar qualquer um. A escala de poder desses Vingadores é inconcebível, mas seu potencial psicótico também o é...
Senhoras e senhores. Essa, na verdade, será uma série de artigos dedicados à administração Osborn. Com isso, damos por terminada a primeira parte, seguindo na próxima semana à segunda parte de comparações entre a situação atual da administração Obama e sua contraparte ficcional.
Inté.