7 de maio de 2012

Os Vingadores e um domingo inesquecível

Tenho a impressão de que é inútil tentar organizar meus pensamentos sobre o filme. É uma torrente tão grande de sensações memoráveis, de momentos gravados na memória, cenas perfeitas e bombásticas e cheias de significado, que tudo fica cheio de som e fúria, e pareço estar tonto, vendo estrelas depois de tomar um esfrega do Hulk.

É gratificante ver como uma pessoa, ou, mais provavelmente, uma equipe, pode fazer a diferença em um empreendimento. Joss Whedon é a mente e ‘mãos à obra’ por trás do extinto mas longevo seriado Buffy – a Caça-Vampiros, e, na minha humilíssima opinião, o cara com punch e competência suficientes para figurar como um dos grandes escritores dos quadrinhos de X-Men. Depois de prestar homenagem (e um serviço!) ao rico histórico dos mutantes (coisa que muito se deve aos roteiros de Chris Claremont), e de manter os personagens interagindo com verossimilhança e rara sutileza, como na recente era Grant Morrison, Whedon foi contratado para comandar a mais ambiciosa aventura da Marvel fora dos comics.

Confesso que torci o nariz quando Whedon foi anunciado como capitão (do filme, não ‘América’). Só o conhecia da primeira temporada da despretensiosa e divertida série Buffy – acho que nem havia lido seu Astonishing X-Men. Mas há um lado positivo nisso, pois também me enganei (e muito!) quando Heath Ledger foi escolhido para viver o nêmesis do morcego.


Se Superman, o filme, e Batman, o Cavaleiro das Trevas são apontados pela crítica como dois dos melhores filmes baseados em HQs, e Homem de Ferro, Kick-Ass e X-Men: First Class como alguns dos mais divertidos e inovadores, preciso chover no molhado e repetir que Os Vingadores é o mais completo, o mais emblemático filme de super-heróis de todos os tempos, pois inacreditavelmente consegue transformar um número incontável de características que amamos nesse tipo de quadrinhos em entretenimento audiovisual, em ótimo cinema. E concordo com o crítico d'O Globo, Rodrigo Fonseca, o gênero não é ficção-científica, fantasia, ‘filme de herói’, é um épico.

Em primeiro lugar, é um crossover! E está lá o espírito dos ‘maiores super-heróis da Terra’, para além da dicotomia universo Marvel ‘normal’ e ‘Ultimate’, e um (talvez possamos chamar de) desprendimento raro de ver em Hollywood, no qual é visível que as estrelas submeteram-se aos personagens interpretados. 

Não há ator principal, não é o filme do Homem de Ferro e seus amigos, como muitos imaginavam que acabaria se tornando. Todos os Vingadores brilham e, mais que isso, cada um tem seu papel, e importância impossível de separar do conjunto, da vitória obtida ao final.

Alguns personagens revelam quem são desde o início, como o Homem de Ferro, e embora pareçam livros abertos, são desenvolvidos um nível acima, revelando mais de que são feitos. Assim acontece com o Capitão Steve Rogers, após ser praticamente escorraçado por um Tony Stark deslumbrado por desvendar o médico e o monstro em Bruce Banner – até ali, Tony o considera um mero soldado com braços fortes. Agitado, e limitado pela falta de domínio de uma tecnologia que não compreende, o bandeiroso resolve então encontrar respostas do único jeito que conhece: saindo para procurá-las.

Da mesma forma, conhecemos de verdade a Viúva Negra: uma profissional tão habilidosa em lutar, espionar e dissimular quanto em esconder o heroísmo e a gratidão que a move. Scarlet Johansson não é a gostosa de colante (também é), mas uma mulher de carne e osso (e silicone) com um enorme peso nos ombros. Jeremy Renner, por sua vez, nos presenteia com o mesmo Gavião Arqueiro discreto do filme do Thor, mas, por trás de tamanha discrição há um exímio arqueiro e estrategista, cujo sangue frio não conhece limites.

Todos os principais atores, sem exceção, imprimem a seus personagens um sentimento, uma dor que os incomoda, obrigando-os a seguir adiante, contra todos os prognósticos. Deslocado de seu tempo, como se trazido de outro universo, o Capitão América que lemos todos esses anos em sua revista própria, que teve mais de duzentas edições pela Editora Abril, aparece fazendo o que nasceu para fazer: liderar os Vingadores. É de arrepiar.


Falando em arrepiar, tenho que encontrar sinônimos para isso, porque foram em sequência os momentos em que os pêlos se eriçaram nos braços e nucas dos fãs. O que dizer do Hulk? Subaproveitado nos seus mais recentes longas, o id de Bruce Banner finalmente se revela a criatura para a qual não há páreo no universo Marvel. E Mark Ruffalo não precisa ser magrela para encarnar Bruce Banner, em seu aspecto mais loser e niilista, com um senso de humor freak, que sempre foi a única pista para entender sua verdadeira relação com o brutamontes verde, coisa que finalmente aparece nesse filme.

Dá para falar o dia inteiro desse filme, porque é uma quebra de paradigmas tão fantástica que parece alucinação coletiva: Como conseguiram realizar um filme de super-heróis que respeita os quadrinhos, os fãs, a inteligência do público em geral, e consegue ser divertido e impecável tecnicamente? Como superaram esse degrau evolucionário sem nos avisar? E, o que vem depois disso?

Quando assisti Batman, o Cavaleiro das Trevas (cuja abordagem e objetivo como filme autoral, embora feito para o mercado, é totalmente diferente), pensei e ouvi de outras pessoas que aquele nível (de adaptação de quadrinhos para o cinema) não poderia ser alcançado novamente tão facilmente. E é por isso que fico assombrado vendo algo como Os Vingadores.

É como entregar a seus pais uma cartinha para Papai Noel contendo todos os presentes que você gostaria de ganhar, sabendo que deve acabar recebendo apenas um deles, ou, com sorte, dois, e acaba recebendo muito, muito mais do que estava em toda a sua lista de desejos.


Não foi um filme. Foi uma experiência. Tive a oportunidade de ver numa sala Imax (cuja tela gigante nos transporta para dentro da ação), em 3-D (que nem reparei), e com som original (embora tenha sido a primeira vez que não queria desviar o olhar para as legendas!). Foi lindo ver as pessoas reagindo ao filme, todos nós sorrindo, e torcendo, e gritando, e exclamando e aplaudindo.

Fui com um camarada que ama a Marvel (e fez a gentileza de comprar os ingressos antecipados) e com a minha amada (que nem gosta(va) tanto assim de capas e colantes). E posso dizer que é inútil tentar descobrir quem de nós se emocionou mais com Os Vingadores. Saímos do cinema como o resto da plateia, falando sobre cada cena, sobre os detalhes escondidos, as referências à Guerra Secreta, especulando sobre que novos vingadores que se uniriam à equipe numa continuação, ou simplesmente... em catarse.

Um domingo para não mais esquecer. Já quero ver de novo.

Um comentário:

  1. simplesmente demais ... o filme e a sua critica ou resenha com preferir....

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