22 de dezembro de 2011

Coficon – O evento acadêmico da Rio Comicon (Parte 02)

É, senhoras e senhores... Depois de um mês e uma passagem pelo Olimpo, o – espero – estimado doutor retorna para comentar a segunda parte do Coficon. O segundo dia marcou o início da quarta mesa do evento com as comunicações: “Mulher-Maravilha e o mito das amazonas”, “Urubucamelô: o lugar da HQ e sua apropriação por outras linguagens”, “Hyperion: de Friedrich Hölderlin à Marvel Comics”, “Watchmen e o Niilismo”, “Crise nas Infinitas Terras: Uma univocidade do ser?” e “Chris Claremont e a estética dos super-heróis”. Devo confessar que esse segundo dia foi mais interessante que o primeiro, pois parece que os organizadores conseguiram captar que este evento acadêmico não estava em seu ambiente principal. Dessa forma, durante todas as palestras os acadêmicos procuraram deixar claro para o público todas as nuanças de suas pesquisas.



Apesar desse ponto positivo, cabe a nós (ou seja, a mim, pois fui o único que conseguiu estar em todas as comunicações) falar um pouco sobre cada um dos trabalhos. O segundo dia foi marcado por certa insegurança com relação às comunicações. Em “Mulher-Maravilha e o mito das amazonas”, Susana de Castro demonstrou um ótimo conhecimento sobre a questão clássica concernente ao mito, mas pouco conhecimento com relação à história da criação de W. M. Marston. Temos de admitir, no entanto, que a história da Princesa da Ilha Paraíso está dentre as mais confusas do Universo DC (perdendo, é claro, para a história do Gavião Negro). Sua cronologia atropelada e, por muitas vezes, contraditória, é, segundo a pesquisadora um realce de determinadas funções de reelaboração do mito das amazonas. Parece para a autora que o mito, tomado como primeira expressão do feminismo por nossos contemporâneos, sempre permeou o imaginário da personagem, fazendo com que, ora ela se “modernizasse”, ora ela se “arcaizasse”.



Em “Urubucamelô: O lugar das HQ e sua apropriação por outras linguagens”, temos um trabalho estético realizado por Fernando Gerheim. Trata-se de uma tentativa de criação de um personagem que discute, do ponto de vista filosófico, o homem brasileiro que se encontra nas bordas da oficialidade. Enquanto nos EUA, esse homem se encontra no aspecto do vigilantismo, no Brasil, temos o camelô como figura máxima, aos olhos de Gerheim, dessa mesma marginalidade não-marginal. Depois dessa rápida explicação, vimos um curta metragem sobre a origem desse superser – oriundo dos camelódromos do Rio de Janeiro, a personagem acaba parando em um lixão e, com fome, degusta todo o tipo de lixo desse local – medicamentos, lixo hospitalar e uma substância verde que acaba por transformá-lo no Urubucamelô, mais um personagem que denota a profunda submissão que o brasileiro médio sente se confrontado com outras culturas.


Watchmen e o Niilismo” (porque não tivemos a comunicação sobre Hyperion) é a análise comparativa do gosto realista que está permeando a nossa sociedade e a questão do esgotamento das filosofias no século XX. Dessa forma, o trabalho baseia-se na famosa problemática das crises (do autor, do herói, dos quadrinhos). Fabio compreende que a obra de Alan Moore trás para os quadrinhos determinados problemas já abordados em outras linguagens artísticas, mas com nova força – desenvolvendo os limites da linguagem das HQ e, praticamente, ditando os rumos tomados pelos quadrinhos estadunidenses a partir de meados dos anos 1980.


Logo após, tivemos “Crise nas Infinitas Terras: uma univocidade do ser?”, em que Luis Felipe Castro Alencastro desenvolve uma reflexão sobre a famosa saga que tentou organizar o Universo DC (aquele puta-puteiro-do-caralho) e que, para ele, está atrelado ao desenvolvimento de determinada tradição na filosofia que versa sobre a relação do ser com o chamado real. Dessa forma, vemos, permeando a narrativa de Crise nas Infinitas Terras, uma correlação com as questões concernentes a Deus, ao homem, ao saber como central para a estruturação da existência humana.

Depois disso, não tivemos mais comunicações. Isso porque chegou um convidado que tomou a festa da manhã na Rio Comicon. Falarei dele na próxima semana.

Inté.

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